
Durante mais de uma hora, ficaram sentados lado a lado na mesa da cozinha. Discutiam arduamente a matéria em questão, mas nem por isso o trabalho de português avançava.
- Poesia é uma seca. – afirmou Tojó. – Se ainda déssemos Bocage ou uma cena do género. Camões até tem partes porreiras n’Os Lusíadas, mas essas damos nas aulas. Agora mandam-nos discutir velhos rezingões e tretas destas.
Tojó levanta-se de repente da cadeira e pronuncia dramatizando:
- Vão, vão filhos da puta, vão morrer longe que nós ficamos aqui na miséria. Vão, que têm mais sorte do que juízo. Vão lá foder com essas ninfas e fornicar com deusas que nós ficamos por cá neste país atulhado de merda nas valetas e de cheiro a peixe cru. Arre.
Tojo estendeu-se derreado no sofá.
Sara não conteve o riso. Apesar de todo o teatralismo do amigo, tinha que lhe dar razão. Afinal, em tantos séculos, as coisas ainda não tinham mudado assim tanto.
- Sim, Tojó, tens toda a razão, mas não podemos pôr isso no trabalho. O pessoal até aplaudia e tal mas não me parece que a stôra ache muita piada.
- Um copo de água se faz favor, que este velho está para morrer.
- És demais, rapaz. – e foi-lhe buscar o tal copo de água. Ao abrir o armário por cima do fogão para tirar o copo, a tal sensação voltou a ataca-lhe fortemente o coração. – Foi deste treatrinho. – pensou.
Mas ao estender-lhe o copo, Tojó pegou-lhe no pulso e fez com que ela se sentasse ao seu lado.
- O que é que estás a fazer? – perguntou-lhe.
- Não penses, Sara. Deixa-te ir.
Beijou-lhe o pescoço e afastando-lhe os caracóis rodeou de pequenos beijos todos os milímetros quadrados da sua orelha esquerda. Sara ainda lhe pegou nas mãos para as afastar dos seus seios, porém deixou-se efectivamente ir.
Estendidos no sofá preto da sala, Tojó afastava-lhe agora as pernas e deitou-se em cima dela. Entre beijos daqueles que não se vêm no cinema porque de técnico nada têm, lá conseguiu meter a mão por dentro da blusa. Ela mordeu-lhe a língua em sinal de desagrado.
- Beijas mesmo bem, linda.
- Não me provoques Tojó! Mordo-te novamente.
E entre um sorriso malandro lá lhe respondeu:
- É isso que eu quero.
E fintando-se mutuamente por instantes, Sara apercebeu-se que já nada havia a perder. O mal já estava começado, mais valia levar aquilo até ao fim.
Sara segurou-lhe a cabeça com as duas mãos e deu-lhe um beijo. E naquele entretém de olhares, já ele tinha acabado por conseguir desapertar-lhe a blusa com as mãos que mantinha perdidas no peito dela.
- O que estás a fazer? Não afastes as tuas mãos das minhas.
- Podes ficar com as mãos.
Deram as mãos. Mas ele não parou. Desceu até ao peito e apoderou-se dos seios dela. Beijou-os intensamente e ela apertou-lhe as mãos.
- O que estás a fazer? – perguntou-lhe novamente.
- Falas demais, sabias?
- E tu matas-me do coração…
Conseguiu largar-se das mãos delas e puxou-lhe os joelhos para cima, contra as suas coxas.
- Sara, não quero fazer nada que tu também não queiras. Gosto muito de ti. És linda, sabias? E quero-te, quero-te muito. Mas és tu quem decide.
Esboçou um daqueles sorrisos encantadores que a definem e segredou-lhe como se lhe contasse o mistério da origem do mundo:
- E depois sou eu que falo demais…